A natureza do encontro ou a artificialidade do encontro? Onde estaremos realmente presentificados? Se Deus acabou, ora, a presença divina também. Resta-nos ainda um bom tanto de sociedades selváticas e primitivas a resgatar em proveito próprio. O caminho traçado aqui vai do animal à máquina e vice-versa como substâncias feitas da mesma matéria, o endosso da necessidade de afirmação, branca e por vezes coletiva. Gozar aqui é mero sinônimo da mecânica celeste, hoje subjugável e controlável a partir de Marx. Mas se Deus morreu Marx morreu também, e também Jesus, e também Apolinário de Laodiceia, o Jovem, e também nós, frutos reprodutivos de uma imagem mecânica morta. Minha pele já é sensível ao mundo e a alguns de seus apelos, sinto sempre ação onde sou tocada e, se tocada sou, mas apenas se tocada sou, pois que o autotoque não me vale a pena, não me diz nada além de aprendizado a ser posto em prática, fico capaz de produzir música e retransmiti-la através de poros e orifícios, como uma lira. Ainda assim, a que presença exactamente nos referimos aqui? A questão é encontrar a moral perdida?? Quem tornou minha duplicata um produto bem acabado e meu orgasmo perfeito?!! Quem me interditou o tribadismo, a prostituição como reafirmação dos valores decadentes de uma sociedade excessivamente capitalista e autoengolidora, castradora, quem não incentiva (com dinheiro público ou com dinheiro privado) a minha possibilidade de ter prazer anal (a now)? Se dou o espírito e/ou cedo-o brevemente a instintos teatrais e depois a tudo analiso como pré ou como pós-textual, dramático, sagaz e irrefreavelmente performático, não estou também eu cedendo minha imagem ao fantasioso mundo do espetáculo que guarda em suas proporções uma medida fugidia, portanto inequívoca da minha própria e individualizada epopéia terrena, intransferível que chega a ser impossível seu pleno compartilhamento, trancada que estou em minha falta de alteridade eficaz, pós-persona non grata, pós-personagem non grata, pós-tudo aquilo que depois de um tempo vai ficando non grato para nós? Nem tudo é coletivo, meus caros, e nem tudo foi depreendido sensivelmente, na carne, na medula, na espinha e na bacia, pontos cruciais do desenvolvimento da presença presentificada humana, daquilo que ouvimos das sociedades multilíngües do Alto Xingu, de Hakim Bey e seus divertidos pontos de vista, de Massimo Canevacci e sua tentativa pela sensibilidade coletiva (muito mais do que pela individual), de Guy Debord e seu espetaculoso livro, de Miriam Leitão e, vez ou outra, mesmo de Nelson Rodrigues, José de Alencar ou Arnaldo Jabor… O intelecto não é uma experiência sensível, mecanicizado que é, por natureza, como o sistema operacional do iPad 3 ou aquele que será o do próximo iPhone. É bom que a presença se evada da tela ficcional e vá parar em alguma vida corrente, ou será a vida a adentrar na tela brusca de onde jamais quererá sair? Quais são os fios que nos ligam ou seremos wireless por natureza? Ainda há um encontro aqui (a desenrolar-se): ainda há um contraste: uma única e exclusiva chama sexual nos acenderá por alguns instantes, seja que tipo de entrada USB for, transformando-nos nos grandiosos bichos urrantes pelo que somos tão conhecidos internacionalmente, como país, como célula, como tecnologia malfadada ao eterno conhecimento que temos de nós mesmos, se tão edificantes por um lado, tão curiosamente inábeis que se nos deixam por outro. Se hoje me depilo aqui, amanhã não mais, o que é um pêlo para quem está cagado? O que é o desejo, que nos une em eletricidade, identidade e nos separa em realização? O que é aquela última tremedeira que dá na perna, enrijecida por um tamanho tesão de uma tal forma na hora do gozo que parece que a ossada pélvica vai quebrar de tão quente que trinca que chacoalha a coluna, em cujas proximidades o corpo ao lado se encaixa e geme com o brilho mais audacioso de que o espírito conseguiu se armar para a transmissão dos dados, como peixe se abrindo em mil vísceras vistosas, como um furioso Doppelgänger? Se são eficazes, essa é outra história, que contaremos ainda através do aplicativo para tablets “El Gran Cabaret Porno II – A Saga 3D Real Presence – Too Less To Say Too Much To Do”, um grande aplicativo de muito espaço que vai ocupar na memória do seu HD bem grosso bem duro, um aplicativo enorme mesmo, bem grande, um aplicativo bem grande, bem grandão mesmo, bem grosso e bem duro mesmo, enorme, gigantesco e muito mas muuuuuuuito muito prazeroso, nada de punhetage intelectoal
(Photos by Leco de Souza & Ivson Miranda)